Para quem gosta de narrativas viscerais da melhor qualidade, sugiro que leia o blog do Pedro Bresson, um ENGO (você jamais saberá o que é isso) radicado na Zoropa aonde faz do continente inteiro um país unico com trocentas cervejas à disposição. Escreveu outro dia um post e eu estou chupinhando na maior cara de pau e 100% no estilo ctrl+C e ctrl+V.
Pegue uma #cervejadeverdade e philosophe na conclusão do tal "Pedro".E para o "Pedro" digo: Não me processe! Vá lá em casa, moro no prédio que sua irmã mora ta ligado ne? Traga essa tal "Ombro de Macaco" que nos iremos discutir sobre direitos autorais, possíveis bonificações e divisão dos lucros que nossos blogs nos dão.
Vamos lá:
Tuesday, August 20, 2013
O Álcool, ou a falta dele, e a Sociedade
Saarbrücken (quanndo aqui vier vá na Gasthaus Zahn)
Por causa do post abaixo fiz uma promessa. Durante o
intervalo da final, ainda 0x0 e o Galo nao jogando grandes coisas, sentenciei
mentalmente: se ganharmos o título vou ficar 40 dias sem beber. Uma quaresma
fora de época.
Ganhamos, como todo o Universo já está careca de saber, e
estou cumprindo o prometido. Depois aumentei pra 42 dias, um pra cada ano sem o
Atlético Mineiro ganhar um título importante. O primeiro, e único, foi o
Brasileiro em 1971.
As últimas gotas de álcool vieram das latinhas, ou melhor,
latoes frios de Brahma em frente a sede do Galo em Lourdes. Os 4,5% já nao
faziam efeito algum. A adrenalina nao deixava.
O dia seguinte, uma quinta e ainda incrédulo, ocorreu sem
bebidas. Nem no encontro fugaz com a cunhada, o cunhado, namorada e cia. no
restaurante do ano, o 2013, resistiu. Poderia muito bem iniciar a promessa na
sexta. Aliás, essa era a combinacao mental original. Enquanto eles bebiam
coquetéis mirabolantes eu só olhava me sentindo um excluído.
Na sexta de manha a confusao do vôo cancelado e a remarcacao
da volta via Guarulhos para o sábado a tarde me deram um dia a mais de Brasil.
Agradeci os vouchers de taxi oferecidos pela Azul e me mandei de volta pra
casa. Lucas me conta a boa notícia: ganhei de brinde uma festa de aniversário do
tio querido, o Renato. Lá chegando me oferece um whisky. Ou mesmo uma
cervejinha pra refrescar. Quem sabe um vinho português, aquele que eu adoro?!
Nao tio, obrigado. Explico a promessa, ele sorri e diz: mas logo hoje?! Nao era
pra eu estar aqui, e conto sobre a péssima manutencao das aeronaves celestes.
Também, uma cia. aérea com esse nome nao poderia me transportar com o manto
alvinegro.
No quinto ou sexto dia seguido vestindo uma camisa do Galo,
incluindo a de 85 surrupiada do irmao com a desculpa de que "depois
devolvo", parti pra Guarulhos de Azul. Normalmente em aeroportos procuro
um pub ou restaurante e por lá fico. Bebendo e lendo um livro que trouxera ou
acabara de comprar. Me sentei no bom restaurante cujo nome nao me lembro e o
garcom pergunta se quero comemorar o título com uma caipirinha ou uma cerveja.
Digo que ficarei no suco e seus olhos quase caem na mesa. Abstêmios se tornam
sem educacao por natureza.
No aviao peco sempre uns dois ou três copos de vinho tinto
acompanhando o jantar. Durmo antes da metade do primeiro filme. Dessa vez nao.
Suco de laranja. Revira daqui e dali, mas dormir que é bom, nada. Na Suíca o
passeio pelo freeshop foi uma tortura. Comprei os shampos que Ela encomendou, o
creme para a pálpebra e chocolates na promocao. Depois fiquei ali olhando
aqueles nomes tao familiares: Ardberg, Glenmorangie, Lagavulin, Laphroaig,
Cardhu. Sem poder sorvê-los pareciam nomes de tribos celtas já extintas.
Já em casa na Alemanha, Ela me recebe aos beijos e abracos.
O calor pede uma cerveja ou um bom branco alemao no jantar. Nada disso. Água ou
suco. Sinto um olhar de aprovacao na promessa. Me sinto manco. Falta alguma
coisa. Mesmo de banho tomado e vestindo roupas confortáveis sinto falta de
algo. Visceralmente.
Após alguns dias comeco a me sentir melhor fisicamente. Mas
psicologicamente nao me lembro de nada relevante que tenha acontecido. Nenhuma
piada, discussao, encontro, zero. Adiciono exercicios aeróbicos a quaresma
futebolística. Bicicleta, natacao e corridas. Comidas leves a noite. Frutas e
iogurtes no meio das manhas e tardes. Emagreco facilmente. Ela gosta, embora
comece a me estranhar. Me pergunta "quem é você?!"
Vem a primeira prova de fogo: um almoco na casa do amigo
mais cachaceiro de todos. Ao saber ele provoca, me chama de boiola, diz que
estou perdendo tempo e que o vinho tá ótimo. Masoquistamente, pego o copo dela
e sinto o aroma. Realmente excelente. O gosto tá melhor ainda, retruca o
sacripanta. Depois do almoco, whisky japonês. Aquele que os bons bebedores
sabem qual é. Suntori, Hibiki ou Yamazaki. "Comprei naquela lojinha bacana
que te falei", alfineta. Vejo-o em delírio profundo sentando no sofá
rodando o copo nas maos. E eu com cara de paspalho tentando achar graca de mim
mesmo. Me senti manco, agora mudo.
Ela pergunta se tá tudo bem. Diz que fiquei triste. E nos
últimos dias tímido. Logo eu. Vamos em frente! Promessa é pra ser cumprida.
No final de semana seguinte, novas provacoes. Primeiro um
almoco com o citado cachaceiro, Herr Bock, e o Luis na Altstadt. Justo num
restaurante com Pilsner Urquell na bomba!!! Pedi suco de laranja (sic). Na
saída, um passeio pela agradável tarde de sábado na cidade velha. Paramos
onde?! Na Uerige Brauerei, a cervejaria de Altbier mais tradicional da cidade.
Herr Bock é sádico por natureza. Fiquei olhando o vazio, falando pouco,
gargalhadas só dos outros. Estou me adaptando, penso.
No dia seguinte, almoco com a turma. Outros dois cachaceiros
adicionados ao grupo apenas pra me espezinhar. Mas me surpreendi com a reacao
deles. Nada falaram, aceitaram respeitosamente minha situacao e pouco
provocaram o pagador de promessas. Mais uma vez, suco de laranja enquanto copos
de pils e altbier fluiam pela mesa com leveza.
Mas o pior ainda estava por vir. Encontro em Paris com o Emi
Pê que passeava pela Europa. Chegamos na sexta a noite e cansados saímos pra
beber alguma coisa. Na brasserie da esquina eu normalmente pediria uma cerveja.
Ela nao quis beber e pediu um chá de menta. Resolvi acompanhar. Me senti um
mulcumano numa mesquita parisiense. Nem sei se mulcumanos parisienses bebem chá
de menta a noite, mas foi assim que me senti. Podem ser marroquinos também,
tanto faz nesse caso. Eles adocam com mel?!
No sábado picnic em Versailles com direito a quitutes da
Epicerie de Paris e vinhos tintos. Após insistentes pedidos, continuei no suco
de laranja apesar da ocasiao pedir o contrário. A noite no restaurante que
depois virou boate foi pior. Emi Pê e Chanel mandando ver nos tintos e as
meninas na champa. Eu na água mineral. Com gás! Depois vieram os drinks e
coquetéis. A turma ia se animando, comecando a dancar, fazer gracinhas, rir
fácil. E eu lutando contra o sono. Balada sem bebida é uma merda. Foi aí que o
Emi Pê contou do escocês que namorou a cunhada dele. Certa vez ele trouxe de
presente uma garrafa do Monkey Shoulder, whisky venerado por vários branquelos
de saiote. Nunca ouvi falar, respondi. E nao é que na prateleira do bar da
boate tinha uma garrafa?! Ampola essa que nunca havia atravessado meu olhar.
Ela olhou pra mim me seduzindo. Um copo vazio com apenas uma pedra de gelo
repousava no balcao. Resisti bravamente a tentacao. Queria um café, mas nao
tinha. Lutei contra o sono balancando o esqueleto enquanto o Emi Pê provocava
um china dancando melhor do que ele. Cenas hilárias.
Hoje é o 27° dia sem beber e a promessa termina na quinta, 5
de Setembro. Serao 42 dias de desintoxicacao tentando ver a Vida por outra
ótica. Percebendo o quanto somos dependentes do álcool. A única vantagem talvez
seja poder dirigir sem preocupacao com blitz. Mesmo assim raspei o retrovisor
do carro na parede saindo do estacionamento da boate em Paris e quase catei um
meio-fio. Tava bêbado de água.
A bebida te inclui. Faz o individuo ser aceito no grupo. Ou
discriminado e rechacado. Alivia as tensoes e diminui os problemas. Ou estes
pelo menos sao esquecidos por uma tarde ou noite. A conversa flui leve e solta.
As risadas saem naturalmente. O corpo responde automaticamente aos estímulos
musicais. Fala-se alto. Bobagens e coisas importantes. Dizem que ficamos mais
verdadeiros quando bêbados. Acho que eliminamos as máscaras e pudores. Amores
nascem e morrem. Filhos sao feitos. Negócios comemorados. Títulos celebrados.
Amizades fortalecidas. Momentos eternizados.
Ser sóbrio e sisudo demais nao faz bem a saúde. Voltarei em
grande estilo bebendo menos, mas com mais qualidade ainda.